Apesar de estar na cama, ao lado da esposa, quando começou a sentir dores intensas no braço, na perna e no peito, a primeira pessoa por quem Joilson chamou foi sua filha do meio, Janine. O pai de família reconheceu, naquela madrugada de sexta-feira, 17 de abril de 2021, que estava sofrendo um infarto agudo do miocárdio — o segundo em seis anos. Era a repetição de um pesadelo pelo qual a família jamais esperava passar novamente. Desta vez, no entanto, Joilson sabia que a jovem universitária saberia exatamente como ajudá-lo.
A confiança partia do fato de Janine Lissa de Pinho, estudante do curso de Obstetrícia na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, ter participado do projeto Kids Save Lives Brasil, oferecido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Nele, os alunos aprendem justamente as ações iniciais que devem ser tomadas em casos de AVC, infarto agudo do miocárdio, afogamento, engasgo e outras emergências. “Desta vez eu tinha todo o conhecimento dos treinamentos do projeto, sabia como ajudar meu pai”, diz Janine.
Eram por volta das três da manhã quando a garota foi acordada pelo pai de 55 anos, que, aparentando sentir muita dor, tentava descrever o que sentia. “Perguntei em qual região estava a dor e ele me contou que eram em áreas”, lembra a estudante, que já se concentrava no treinamento que havia recebido. Ao reconhecer os sintomas já avançados de infarto na fala de Joilson, ela avisou que teriam que partir para o hospital imediatamente. Antes, no entanto, lembrou dos procedimentos pré-hospitalares que poderiam fazer toda diferença naquele momento.
“Busquei pela caixa de remédio e peguei o AAS (aspirina)”, conta Janine. “Dei o comprimido ao meu pai, e entreguei o restante da cartela na mão da minha irmã mais velha, com instruções do que fazer e o que falar no hospital”. A estudante conta que, enquanto tudo acontecia, lembrou da voz do Prof. Antonio de Padua Mansur, que conheceu no Kids Save Lives Brasil. Foi ele, que integra o Departamento de Cardiopneumologia da FMUSP, quem lhe ensinou como identificar um infarto e administrar medicação.
Para Mansur, que já ouviu relatos similares de outros alunos, o resultado é extremamente gratificante e mostra a importância do projeto no dia a dia das pessoas. O mesmo sentimento é ecoado pela Profa. Naomi Kondo Nakagawa, Coordenadora Nacional do Kids Save Lives Brasil, que faz questão de exaltar a atuação da aluna. ”Sentimos uma alegria imensa pela Janine ter conseguido manter a calma e reconhecido os sintomas de infarto”, diz.
Ao chegar no hospital, a irmã de Janine informou os médicos sobre a intervenção com aspirina, enquanto Joilson partia para os exames de eletrocardiograma e cateterismo. Após os procedimentos, foi possível constatar o estado crítico de suas artérias, tendo sido necessários quatro stents (pequenos tubos) para mantê-las abertas. “O médico disse que as artérias estavam muito entupidas e que só não aconteceu algo pior por conta da nossa conduta antes do hospital”, diz Janine. Um dos efeitos da aspirina é justamente evitar a obstrução dos vasos sanguíneos.
“Eu olhei para o meu pai e ele disse ‘filha, o conhecimento que você tem salvou minha vida’”, lembra a jovem, ainda emocionada. Pelos conhecimentos adquiridos e o treinamento que lhe permitiu manter a calma mesmo durante essa situação desesperadora, Janine destaca a importância do Kids Save Lives Brasil. “Deixo aqui todo o meu agradecimento ao projeto, que salvou a vida do meu pai e mudou a história da minha família”.